“Não dá para chegar aqui e colocar o pessoal para fora, como se não existisse. Vão construir um hospital e a gente vai pra onde? A gente só está pedindo uma moradia digna na área, porque nós estamos aqui há quase 30 anos, e eu acho que a prioridade tinha que ser nossa. Nós é que construímos esse centro aqui; eu dei meu sangue aqui, paguei meus impostos a vida inteira e continuo pagando. Na minha vida eu tive dois maridos, e os dois eu conheci aqui no meu comércio. A minha vida se resume a esse bairro; eu tenho 28 anos em São Paulo, acredita se eu disser que não conheço a 25 de março? Eu entro às 6h da manhã e só saio à meia-noite daqui do meu comércio, porque eu não deixo na mão de ninguém. Só o fato de pensar em um dia ter que sair daqui eu já fico doente.”

“Estão acabando com as famílias que moram ao redor da Luz. Se tem pessoas de longe vindo morar aqui, então nós também temos o direito de ficar. As pessoas daqui precisam é de oportunidade, os jovens precisam ser incentivados a estudar e a trabalhar, portas de emprego precisam se abrir para as pessoas daqui da região. Esta semana minha filha chegou com os olhos cheios de lágrimas da escola, falando ‘mãe, vai ter confronto, de novo as bombas’, porque tinha visto a polícia na esquina. A situação de quem está ali no fluxo é muito complicada. Cada um tem um motivo para se encontrar na droga hoje. Tem gente ali que tem estudo, tem gente de todo tipo. Uma vez eu estava conversando com três rapazes ali embaixo e eles me disseram que, se eles tivessem uma oportunidade, eles conseguiriam sair dali, voltar para as famílias e serem vistos pela sociedade de um jeito diferente. Eu também fui usuária de drogas, estou limpa vai fazer sete anos, e teve alguém que apostou em mim”.
